‘Não tem peixe’: Rio Madeira bate nova mínima histórica, e ribeirinhos perdem sustento



‘Não tem peixe’: Rio Madeira bate nova mínima histórica, e ribeirinhos perdem sustento

21/11/2024
Foto: Marcos Miranda

Em menos de 24 horas, o Rio Madeira bateu um novo recorde, pelo quarto dia consecutivo: chegou a 58 centímetros, em Porto Velho, na noite da quarta-feira (11). Esse é o menor nível em quase 60 anos, uma vez que o nível do rio começou a ser monitorado em 1967 pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Mais de 50 comunidades vivem às margens do Rio Madeira, em Porto Velho. A pescadora Raimunda Brasil mora na comunidade Bom Será há 15 anos e tem a pesca como principal fonte de renda. Com a seca extrema, a margem do rio “desapareceu”, assim como o sustento da ribeirinha.

“Não tem peixe, não consigo pescar. Minha principal fonte de renda é o rio, sem ele estamos nos virando para sobreviver”, relata.

 

A comunidade ribeirinha de Bom Será fica a 80km da zona urbana de Porto Velho. A situação por lá é semelhante a outras comunidades ribeirinhas: sem água potável, os moradores precisam fazer “improvisos” para continuar sobrevivendo.

Raimunda revela que o único poço que abastece a população está quase seco e o volume não atende as necessidades básicas de todas as pessoas.

“Às vezes não tem água pra nada, nem pra cozinhar. Eu e minha família já tivemos que descer o barranco, caminhar na areia e tomar banho com a água do rio”, disse a pescadora.

O rio Madeira possui quase 1,5 mil quilômetros de extensão em água doce e é um dos maiores do Brasil e do mundo, além do mais longo e importante afluente do rio Amazonas.

Falta de comida e dinheiro para sobreviver

 

Em meio a um cenário de seca extrema, o curso do rio está tomado por enormes bancos de areia e montanhas de pedras. Para tentar sobreviver, Raimunda revela que buscou outras ocupações.

“Nos últimos tempos, meu marido se divide em serviços de pedreiro e barbeiro e eu vendo alguns produtos em casa para conseguirmos nos sustentar” conta.

 

Raimunda Brasil e sua filha — Foto: Marcos Miranda

Raimunda Brasil e sua filha — Foto: Marcos Miranda

Agora a realidade na casa da pescadora é inversa: ao invés de pescar e vender, ela compra peixe de outras regiões para conseguir se alimentar. Segundo a ribeirinha, essa é a pior estiagem que ela e sua família estão passando desde que se mudaram para a comunidade, há mais de uma década.

Como acontece a morte de peixes na seca?

 

Há duas explicações para o desaparecimento gradual dos peixes, de acordo com o biólogo Flávio Terassini: os bancos de areia que se formam com o baixo nível das águas dão origem a lagos; alguns grupos de peixes ficam isolados nesses lagos e morrem pela falta de oxigênio.

Outro motivo seriam as barreiras que os bancos de areia criam, impedindo a migração dos peixes para outras regiões.

Na comunidade Maravilha, também em Porto Velho, um Igarapé localizado secou, causando a morte de dezenas de peixes e dificultando o acesso à água para os moradores da região. Segundo a Defesa Civil Municipal, situações como essa ocorrem na região de Maravilha e em várias outras comunidades ribeirinhas, lagos e igarapés de Rondônia.

Não tem água pra nada’

 

Durante a seca extrema, muitas famílias ribeirinhas vivem com menos de 50 litros de água por dia para abastecer toda a residência. A quantidade é menos da metade dos 110 litros por dia considerados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como necessários para suprir as necessidades básicas de apenas uma pessoa.

Para ajudar a diminuir os impactos da seca, a Defesa Civil de Porto Velho iniciou a distribuição de água potável para a comunidade Bom Será e outras 15 ao longo do Rio Madeira. A água será entregue periodicamente até o mês de novembro. Cerca de 700 famílias serão atendidas no enfrentamento da seca na região.

Hidrelétricas operam abaixo da capacidade

 

Pela primeira vez na história o rio ficou abaixo de um metro. A situação é tão inédita que o SGB precisou instalar uma nova régua de medição que vai até 0 centímetros.

Diante da crise hídrica, as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, duas das maiores do Brasil, operam com apenas 20% e 14% de suas turbinas, respectivamente. Embora seja esperado que a produção de energia diminua em períodos de seca, a situação atual é inédita.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vê “ponto de atenção” por causa da seca, mas não cita possibilidade da falta de energia. “O Sistema Interligado Nacional (SIN) dispõe de recursos suficientes para atender as demandas de carga e potência da sociedade”.

G1RO

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